30.3.10

A vida pode ser trágica. A vida pode ser cómica. Conheço quem se desfaça em risos sinceros enquanto relata o seu próprio infortúnio, conheço quem chore e se lamente com pequenos desapontamentos que ao dia seguinte estão esquecidos.

A vida trágico-cómica depende quer do posicionamento sobre os acontecimentos que nela habitam quer do afastamento temporal da situação. Por posicionamento refiro-me a atitude pessoal, por afastamento temporal refiro-me ao encostar na expressão “isso com o tempo passa”, tão gasta de ser usada que para mim devia simplesmente ser deitada fora e reciclada para algo como “o tempo ajudará naquilo que sozinho não conseguires”.

Geralmente tenho tendência para as tragédias, o que logo em mim é profundamente trágico que aconteça porque todo o meu racionalismo me diz que esse não é o caminho. Mas também estou longe da comicidade na vida, de achar graça a contrariedades, frustrações, desilusões e outros que tais. Preciso do tal tempo para conseguir rir da situação e gostaria de fazê-lo mais rápido por minha própria atitude.

Detesto ter de esperar que o tempo me embale para que os meus desgostos, angústias e outros males de espírito sejam amenizados. Adoraria ter a atitude positiva, resiliente, optimista e recheada de outros chavões do jargão psicológico, para me render rapidamente à comédia sem precisar de uma imensidão de tempo para me afastar da tragédia.

Claro que não defendo a “fuga para a frente", o fechar de olhos para ignorar o problema, pelo contrário, a tragédia existe e existe para ser vivida, experienciada, chorada, revoltada e resolvida mas não gostaria de estar à mercê de algo tão subjectivo e ilusório como o tempo para que o cómico desperte em mim.

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