Não sei se alguma vez na infância tive um amigo imaginário, não que me recorde, mas talvez o tivesse tido apesar de discreto e de poucas falas. Mas amigos mesmo eram estas turmas de bonecos que me deliciavam os olhos e que me despertaram para o hábito da leitura enquanto enchiam as prateleiras lá de casa e davam todo o sentido ao conceito de pilhas de livros na mesa de cabeceira. O êxito destes amigos da BD é universal, longe está de ser um exclusivo meu, mas ainda hoje, e com especial destaque para a turma da Mónica, os recordo como dos melhores pertences do meu imaginário infantil.
É engraçado como me deixava seduzir por argumentos simples mas que por serem tão afastados da minha realidade os tornavam da maior singularidade. Ninguém conseguia reunir um grupo de amigos em que um nunca, mas nunca tocou em água, outro tem somente 5 fios de cabelo, uma amiga aficcionada por comida, especialmente melancia e que nos dias de hoje facilmente seria diagnosticada com distúrbios alimentares, e outra que não se cansava de retaliar contra os mesmos improprérios que todos os dias lhe eram dirigidos, fazendo uso de um coelho azul encardido mas eficaz no seu trabalho. Para além disto falamos do estilo de vida descontraído, passado num Brasil quente, onde a alegria era transversal mesmo nas histórias mais "negras". Para mim era argumentos de sobra.
O bolinha e a luluzinha tinham menos graça, é certo, ainda assim, tive uma colecção razoável destes dois personagens de personalidades opostas e acho que sinceramente aguçaram o meu lado feminista com o execrável clube do Bolinha cuja assinatura escrita a letras negras era "Menina não entra". Esta que era uma irritaçãozinha em tenra idade converteu-se em algo mais sério nos dias de hoje chamado de defesa pelas igualdades sociais, mas isso não é conversa para este post. Aqui é mesmo para perpetuar amigos de papel, que sem nunca os ter tocado me enriqueceram o meu repertório de amizades que não se esquecem.
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