É uma verdade que custa assumir, a de que a iliteracia e o analfabetismo constituem uma realidade nacional. Apesar de todas as (novas) oportunidades impulsionadas pelos governos (defensáveis ou não, pouco importa para este texto) a verdade é que as estatísticas nos continuam a empurrar para um lugar de fim de fila no que às qualificações e ao abandono escolar diz respeito. E, apesar de ser confrontada diariamente com este contexto inquietante, quando vejo na televisão jovens que não sabem ler nem escrever, sequer, o seu nome, perpetuando uma herança familiar de alheamento atroz pelo mundo que os rodeia, isso é coisa para, ainda, me conseguir lançar uma considerável dose de perplexidade. Sei, no entanto, que há realidades que justificam o afastamento da escola, existindo quotidianos, tão repletos de dificuldades, que os números e as letras são empurrados para longe das suas prioridades. Mas sei também que para aprender é preciso querer, é preciso atentar, é preciso instalar a curiosidade. E o que mais me custa não é quem não teve oportunidades para aprender mas sim quem, não tendo aprendido, não vê nisso mal nenhum. «O pior cego é aquele que não quer ver», já diz o ditado popular que assenta na perfeição nesta atitude depreciativa perante a aprendizagem.
A aprendizagem ao longo da vida é o paradigma de formação de um estado europeu que se quer qualificado, competitivo e modernizado. Modelos políticos, sociológicos e psicológicos à parte, pois este blogue vive somente da minha perspectiva pessoal de mero senso comum, sou defensora acérrima de todas as aprendizagens que possam solidificar o desenvolvimento intelectual do indivíduo. Talvez seja por isso que nunca compreenda o argumento tipicamente utilizado, e a fazer manchete nos dias de hoje: «Para que é que estudei tanto se ganho o mesmo de quem estudou menos do que eu?». Acho legítimo que se defenda que, a um maior nível educacional, corresponda uma resposta social que actue como mecanismo de reforço da motivação. Já há muito que se conhecem as teorias do condiconamento pavloviano e dos efeitos da motivação no comportamento humano, mas existe todo um manancial de estímulos sociais que justificam as mais-valias do aprender para além do já gasto, e no fundo pouco lógico, argumento do vencimento ao final do mês.
Os vencimentos ganham-se e perdem-se; aumentam e diminuem; mudam com as conjunturas, com os mercados, com as balanças comerciais. Aprender é sempre ganhar; ganhar mundo interior; ganhar hipóteses de ir mais além, de subir as probabilidades para cada uma das jogadas da vida; é aumentar os graus de liberdade que ditam a actuação de cada um; é ver para além de olhar, é ouvir para além de escutar. Posso parecer acusar excesso de demagogia, ingenuidade, e até de romantismo, mas não acho, de todo, que esses juízos se me ajustem. Acredito que haja descrença na sociedade, cansaço pelas dificuldades de um país em desalento, desconfiança nas estruturas que nos sustentam. Mas não há maior estímulo do que aprender para melhor decidir, não há melhor resposta social do que estar informado para melhor agir. Aprender é sempre o melhor dos investimentos. Ainda que os números do desemprego não o demonstrem, ainda que os salários nacionais sejam vergonhosamente inferiores a outros países com o mesmo custo de vida, ainda que a precariedade laboral pareça ser um conceito partilhado e amplamente disseminado, ainda assim, para mim, nada justifica forçar o mundo interior à mesma pobreza imposta por uma sociedade desigual.
Os vencimentos ganham-se e perdem-se; aumentam e diminuem; mudam com as conjunturas, com os mercados, com as balanças comerciais. Aprender é sempre ganhar; ganhar mundo interior; ganhar hipóteses de ir mais além, de subir as probabilidades para cada uma das jogadas da vida; é aumentar os graus de liberdade que ditam a actuação de cada um; é ver para além de olhar, é ouvir para além de escutar. Posso parecer acusar excesso de demagogia, ingenuidade, e até de romantismo, mas não acho, de todo, que esses juízos se me ajustem. Acredito que haja descrença na sociedade, cansaço pelas dificuldades de um país em desalento, desconfiança nas estruturas que nos sustentam. Mas não há maior estímulo do que aprender para melhor decidir, não há melhor resposta social do que estar informado para melhor agir. Aprender é sempre o melhor dos investimentos. Ainda que os números do desemprego não o demonstrem, ainda que os salários nacionais sejam vergonhosamente inferiores a outros países com o mesmo custo de vida, ainda que a precariedade laboral pareça ser um conceito partilhado e amplamente disseminado, ainda assim, para mim, nada justifica forçar o mundo interior à mesma pobreza imposta por uma sociedade desigual.
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