A pequena amostra de sol que hoje aqueceu as minhas janelas e me permitiu sucumbir ao dolce fare niente numa esplanada, enquanto os meus olhos mergulhavam na paisagem de um rio detentor de um azul que é só dele, foi mais que suficiente para me impacientar pela chegada dos dias de Primavera. Já só me apetece que o calor invada as minhas artérias e me entre de rompante pela casa para que o possa fechar hermeticamente nas minhas gavetas. Tenho tudo pronto para o receber, gelados que não me saem da cabeça, vestidos com estampados florais, espreguiçadeiras na varanda ansiosas por corpos indolentes, orquídeas a quererem florir, pés implorantes por grãos de areia, viagens planeadas que exigem cabelos ao vento, melodias de concertos de Verão.
Começa-me, verdadeiramente, a aborrecer não poder sair de casa sem um casaco, não conseguir abandonar o edredão, não deixar de piscar o olho à manta que ainda se aninha no sofá. Quero libertar-me destas amarras que amenizam o frio e amar perdidamente as blusas de algodão que permitem que a pele se exiba, adorar apaixonadamente as sandálias que deixam que os pés se vejam, sorrir perante o vento que entra no carro conduzido de janelas abertas. Assim, enquanto o sol não passa de pequenas amostras, que por enquanto apenas nos relembram que a vida com ele pode ser muito boa, vou sonhando com a sua presença, enquanto me deixo embrenhar pela exuberância da natureza que me rodeia e que, tal como eu, já anseia pelo astro rei nas suas gavetas.
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